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18.3.10

onde esconderam minhas coisas?



Deus não me deu um braço de mar, mas sim um rio pra nadar e uma praça pra brincar. Um dia desses acordei e vi que haviam arrancado meus balanços, as árvores, as traves do gol improvisado, os pés de carambola do seu Genaro e a venda do pé de moleque. Proibiram-me de brincar.

Eu tinha um teatro na garagem de casa. Fitas de cetim, um ator e um tamborim, bonecas encantadas e um dente de marfim. Um dia desses acordei e percebi que haviam desmontado o teatro, levaram as bonecas, as panelas, e até os ramos de alecrim.

Agora tenho uma faixa, uma árvore, um guarda sol e umas cervejas pra mim. Agora me viro como posso, grito bem alto esperando a água que corre nos dutos da mangueira pra vê se refresca essa minha bobeira. Mas um dia vou ter tudo de volta o teatro e minhas botas, a praça e as carambolas.


(Vivemos e usamos, usamos e vivemos, deixamos de lado as doçuras de criança, os detalhes do dia e da noite. Começamos a não perceber as mudanças que as pessoas fazem por nós. Corremos tanto contra os passos do relógio que acabamos deixando pra lá, fechando os olhos mesmo não gostando do resultado. Perdemos nosso canto no mundo, ficamos espremidos no fim do corredor e acabamos morrendo com impressão de não ter vivido como deveria.
Em todos os casos, em todos os momentos, nas coisas pequenas e nas coisas grandes, precisamos dar mais atenção para as mudanças.)


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além do decreto sobre a proibição de eventos na Praça da Estação, agora também querem abrir mão do festival de teatro FIT desse ano.



2 comentários:

  1. gostei, mesmo, das coisas que você posta aqui. vou me atrever a fuçar de vez em quando, pode?

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  2. lindo...mais ainda prá uma mineira que está fora de BH!!!

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